Pesca
Safra do camarão deve repetir fracassos
Com previsão de chuva, temporada será ruim para os pescadores da região
Paulo Rossi -
A captura do camarão estará liberada a partir de amanhã, mas a permissão não deverá mudar a perspectiva dos pescadores da região. A redução no nível da lagoa registrada neste mês de janeiro não foi suficiente para manter o desenvolvimento do crustáceo. Diante da previsão de chuva para a temporada, pelo terceiro ano consecutivo a safra deve ser um fracasso.
A lagoa está mais baixa nos últimos dias. Isto fez com que a água salgada entrasse até a Barra, na última semana, segundo pescadores da Colônia Z-3, em Pelotas. Mas o vento Leste - e a falta do vento Sul - fez com que a situação não se mantivesse. Os 1,1 mil pescadores do município também não encontram a tainha e a corvina com facilidade. Assim, colocar o barco na água é sinônimo de prejuízo e muitos sequer estão saindo para a captura.
Para Francisco Silva, 65, o momento é de preparativos, mas também de resignação. “Até daria tempo de o camarão entrar, mas, se chover, a esperança vai embora.” Nas peixarias da Colônia, o movimento é fraco. O camarão limpo, criado em cativeiros de Santa Catarina, é vendido aos consumidores entre R$ 60,00 e R$ 70,00 o quilo.
Em São José do Norte, pescadores relatam pescaria fraca e pouca salinização da água. A captura só ocorre para consumo próprio. Alguns trocaram a função pelo trabalho de diaristas na safra da cebola, de acordo com a Emater.
Em Rio Grande e Tavares a previsão da safra se mantém negativa, mesmo com alguns poucos registros de camarão na lagoa. A cotação da Emater é de que o quilo do camarão descascado está sendo negociado a R$ 37,00.
No Laboratório de Crustáceos Decápodos da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), o professor Fernando D’Incao afirma que a safra será realmente baixa. Ele desenvolveu um modelo de previsão alimentado com dados históricos coletados pelo Projeto Ecológico de Longa Duração e atualmente apresenta uma taxa de acerto de 91%. “A época maior de entrada das larvas na Lagoa já passou e deveria ter chovido menos no início do verão, não devemos ter a presença do crustáceo em muita quantidade na região.” A precipitação prejudica a entrada das larvas no estuário.
E a previsão é de chuvas acima do padrão para fevereiro e março na Metade Sul, de acordo com prognóstico realizado pelo Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas da Universidade Federal de Pelotas (CPPMet/UFPel). O motivo é a permanência do El Niño, que deve trazer ainda mais nebulosidade e temperaturas não tão elevadas como as registradas normalmente.
Ações de emergência
O presidente do Sindicato dos Pescadores da Colônia Z-3, Nilmar Conceição, aguarda para a próxima semana uma reunião com representantes da prefeitura para tratar de ações que possam minimizar o impacto da falta do crustáceo. “Tem muita gente com dívidas de safras anteriores e que não vai ter como se defender sem o camarão.”
O seguro defeso - um salário mínimo para cada pescador - é esperado apenas para os meses de junho, julho, agosto e setembro. Mas antes disso, os rumos de possíveis ações conjuntas devem ser debatidos no Fórum da Lagoa dos Patos, que reúne representantes dos quase quatro mil pescadores licenciados em Pelotas, Rio Grande, São Lourenço do Sul e São José do Norte.
A reunião estava agendada para o dia 28 de janeiro, mas não ocorreu. O motivo, de acordo com o presidente do Fórum e da Colônia Z-1, Nilton Machado, foi problema nas agendas das entidades. Ainda não há nova data estipulada, mas um pré-encontro entre representantes das colônias está previsto para ocorrer quinta-feira em São José do Norte.
Nilton adianta que o objetivo do Fórum será a cobrança das demandas pendentes e a busca por novas medidas para minimizar atuais e futuros prejuízos. “No ano passado pedimos ao governo prorrogação para pagamento do financiamento do Banco do Brasil, mas não tivemos resposta e muitos pescadores acabaram no SPC e no Serasa”, relatou. “Já não temos peixe nem camarão, se ninguém nos der apoio vai ficar difícil”, concluiu.
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